SEM MEDIDAS

Não sei exatamente quando começou,
Mas desde que me lembro bem,
Sempre tentei ter alguma rima
E alguma métrica no que sou.
Aí, veio você.
Algumas frases você deixou assim compridas, parecendo não ter mais fim...
Outras, não.
Minha métrica e rima se foram para sempre.
Se tento fazer caber numa linha,
Todos os pensamentos que tenho,
Acaba sempre o papel,
Acaba sempre sem que eu saiba como dar uma medida.
Acaba sem eu saber se quero ser tão preciso.
Hoje não me cabem mais essas regras.
Medidas ou definições jamais conseguirão apreender
O que vem de você, o que de você se faz.
Não sou apenas eu que perdi minhas medidas:
Foi a vida que perdeu seus pequenos limites
E ganhou a dimensão do eterno, do infinito.
Não preciso mais fazer frases que caibam num espaço,
Acho que eu não caibo mais no meu espaço.
Você dá novas definições a tudo, do mais simples ao mais rebuscado
Você dá novos sentidos e novos significados
Você cria novas medidas e, por você, novos horizontes
Precisam ser enxergados.
Não lhe cabem apenas algumas estrofes de uma simples poesia,
Não se encaixam adjetivos de uma gramática qualquer.
Você ultrapassa quaisquer quereres, estares e seres
E cria uma nova linguagem.
Exagerado - talvez seja sua resposta.
Não me iludo acreditando que você pense de mim mais do que isso.
No seu tempo-espaço incomensurável,
Meus limites jã estão ultrapassados,
Minha compreensão
Não encontra significantes e significados.
Na dimensão em que você existe, com certeza não existe espaço
Para quem um dia buscou algumas métricas e rimas.
Seu nome, por si só, significa mais vocábulos
Do que encontro em meu dicionário.
Mesmo eu, que buscava o infinito,
Agora procuro definições em velhos corolários,
Que expliquem de onde vem esse seu mundo tão bonito.
Não acredito que vá encontrar essas definições,
Nem espero que você me peça para buscá-las.
Só desejo e quero que você não precise utilizá-las.
Porque nenhuma delas, em nenhuma língua ou imagem,
Será capaz de retratá-la em toda sua deslumbrante realidade.