quarta-feira, setembro 04, 2002

UM TIPO DE MAGIA

Qual é o intrínseco segredo e a doce magia
Que te faz tão simples e tão sábia
E me faz entender e aceitar, e me faz sorrir
Emprestando-me o sorriso que muitas vezes não tens?

Que precisão é essa que te faz dona da verdade
E desfaz e torna a fazer o que já foi feito,
Que compreende cada expressão minha
Dando-me as explicações que não trazes?

Sempre me fazes bem e, se erras,
É sem querer, mas apesar disso insisto nos mesmo erros
E novamente me perdoas.
Mais uma chance me dás.

Porque talvez seja inerente a ti essa capacidade
De fazer exatamente o que deve ser feito
E dar a todos, ou em especial a mim,
Do teu próprio alimento.

É claro que escreverei milhões de linha e, mesmo assim,
Quase nada direi do que és realmente
Pois o que digo perde a clareza antes de expor
E traço um perfil imperfeito, vazio.

Porque o que fazes é tão complexo e tão forte
Que movimenta estas linhas, tentativas de homenagear
Isso tudo que fazes comigo e por mim
Mas que fica só de lembrança.

Pois tento retribuir-te tudo isso
E faço o que me é possível. No entanto,
Não possuo essa sabedoria, ou essa magia, nem tenho esse teu segredo
E acabo errando por não saber o que fazer.

Talvez um dia acharás esta folha e lembrarás
De quantas coisas fizeste, de tantos momentos que, se não causam saudade,
Ao menos foram momentos que eu levarei na lembrança
Para embalar e aquecer nos dias frios.

Gostaria de conseguir expressar melhor todas essas idéias
E falar um pouco mais de ti
Mas mes faltam palavras necessárias
E acabo me perdendo no meio do caminho.
Mas mesmo assim torna-se desnecessário escrever mais
E deixo o teu nome de fecho, dando-me ao direito, até,
De esquecer o ponto final

TÉDIO

A mesa, a roupa posta, a porta aberta
O rio manso, o sol poente, a escuridão nascente
O silêncio, o ruído das águas, o cheiro do mato
A televisão muda, o rádio desligado, um bocejo.

Levanta-se, acende a luz, mata um pernilongo
Olha no armário procura um inseticida
Desiste, vai lavar o rosto, aumenta a televisão
Lava a mão, senta-se, descansa.

Torna a levantar, abre a geladeira, come algo
Arruma a toalha da sala, puxa o tapete
Desliga a televisão, coloca uma fita velha
Deita no sofá, se encolhe e pensa.

Sonha velhos sonhos, velhos planos
Chora um pouco, sorri amarelho, esquece
Levanta, bebe água, pega um álbum de fotos
Relembra velhas cenas, sorri de novo.

Desliga tudo, sai, dá uma volta
Olha o rio e ouve o ruído
Passeia, mexe nas árvores
Olha uma casa ao longe.

Olha pra cima, pra baixo, pros lados
Procura civilização, procura ruídos de carros
Procura um avião, procura emoção.

Procura sensações, procura a quebra da monotonia
Procura um abraço amigo, procura um colo doce
Procura algo que ponha sim nesse tédio.

CANÇÃO PARA UMA VIDA

Tanta vida ainda havia para se viver
Mas o desespero veio sucumbir o que poderia ser
Um grande pai, uma grande homem, um grande poeta
Que achava que a vida era um grande cinema.

Tanto álcool tinha no sangue quanto lágrimas nos olhos
E tanta carne havia no corpo quanto a felicidade
Cantarolava uma canção de sua cidade
Canção carregada de mágoa que falava de amor.

Um casamento acabado, uma vida perdida
E a partida daqueles de quem mais gostava
Falava agora bobagens sem mais nem porquê
E nada mais poderia lhe alegrar.

E se alguéma gostava dele ainda
E quer mesmo o encontrar
Não poderá, pois mergulhou no asfalto
Com tanta leveza qual fazia no mar.

E a vida partida, os restos jogados
A felicidade esquecida no chão molhado
A família era só lembrança
Saudades da alegria da infância.

E o tempo correi e a hostória se perdeu
Seu nome é mais um que morreu
Seus olhos, janela para o mundo
Estão agora no fundo, no fundo.
(Homenagem a meu amigo Orlando)

BRUMA

Faz 4 sóis que te conheci.
Faz 3 eternidades que te perdi.
Não sei quantos lenços chorei,
Nem a quantas lágrimas atrás sorri.
Neste concreto impávido, tenho-te
A um não de distância.
Mesmo que o sol brilhe em teu rosto,
Mesmo que a chuva molhe meu peito,
Nossos desejos são dois ponteiros de hora
Marcando diferentes horas
No mesmo relógio.
Mas quero-te neve, quero-te bruma,
Quero teu peito a um amor de distância.
Quero...
Queria que tudo isso não fosse um filme
Às três fronhas da madrugada.
Um filme que escorre de minha câmera,
Que te mira no pico do Everest,
Que te procura na noite de nossas vidas,
Que te acha dentro de mim,
Que por não te ter me faz chorar.
Te quero.

sexta-feira, agosto 23, 2002

PEQUENA BUSCA

Faz tempo que busco algo,
Que se perdeu em mim.
Talvez eu me perdi,
Buscando o que já não sinto,
Em corpos que não sentem nada por mim.
Se continuo minha busca,
É porque continua meu frio, meu vazio.
Mas preciso sentir de novo,
Aquele calor, aquela pele.
Preciso voltar a enxergar e sentir,

segunda-feira, junho 03, 2002

IDAS E VINDAS

Quantas vezes eu quis preencher as páginas
Ansiando preencher a minha alma.
Cada palavra, cada frase, cada rima
Pareciam a verdade derradeira, o conteúdo final, o significado sublime.
Minha mão solicitava as folhas como um esfomeado solicita mais um prato de comida.
Eu devorei não sei quantas linhas,
Quantos litros de tinta.
Mas minha alma continuava vazia.
Inventei paixões, dores de amores, sentimentos descontrolados,
O medo da perda.
Agarrei-me no braço e no corpo de mulheres
Que mal sabia o nome,
Apenas para preencher minha solidão.
Bebi não sei quantas doses da minha verborragia
E não sei quantas páginas de minha erudição.
Injetei na veia cada soluço, cada suspiro, cada traço de meu sofrimento.
Vomitei todos os meus dragões,
Todos os meus desejos mais secretos
E fiz sexo exatamente como se fizesse um novo ser.
Mesmo tendo ido tão longe,
Quis mais, voar mais alto, descer mais fundo, entender além, sofrer de novo tudo.
Repeti e repeti esse caminho
Tantas vezes que perdi os sentidos.
Calejei meu coração e ensurdeci minha razão.
Mesmo duro, insensível e perfeitamente contido,
Não fui capaz de preencher meu próprio espaço.
Busquei nos outros, nas coisas, nos sonhos, na religião,
No mundo, no amor, na raiva, no medo e na negação.
Não encontrei alento e nem tampouco sustento.
Não tive alívio e nem sossego.
Não perdi a pressa e nem o medo.
Não vi sentido e nem mesmo o dedo de Deus.
Essa busca parecia sem fim, sem descanso e sem encontro.
Desafiei todas as leis para negar essa herança.
Só calei minha mente e preenchi minha desaventurança,
Quando encontrei teus olhos, teus pés, tuas mãos.
Só na tua boca encontrei o remédio
Para a ressaca de minha solidão.
Só na tua nuca encontrei o conforto
E o porto seguro da minha devoção.
No teu ventre eu naveguei no remanso,
Experimentei o sabor das frutas da estação.
No teu abraço o laço seu fechou eu eu compreendi,
Afinal, qual era a lição.
Nos teus limites eu encontrei os meus.
Nos teus olhos, perdi os meus.
No teu corpo, esqueci de ser eu.
No teu calor, senti o calor do céu.
Na tua voz eu ouvi todos os deuses,
Todos os santos e todos os milagres.
No teu canto eu encontrei meu canto, meu espaço, meu universo.
No teu pranto, exagüei meus sentimentos e minha cultura.
No teu colo, calei minha loucura.
Você, que sequer buscava alguém como eu.
Você, que nem queria mais o amor.
Você, que já havia até esquecido da dor.
Você, veja só, que sequer procurou.
Você, quem diria, que nem se importou.
Você, que quer repetir todo dia.
Você, que foi amar alguém como eu.
E agora também se perdeu.
Em mim e eu em você.
Pra sempre, enquanto durar o querer.
Pra sempre, pra muito depois de todo o prazer.
Pra nunca, nunca mais esquecer.

CERTAS COISAS

Tem coisas que a razão não conhece
Ou, talvez, não se importe.
Tem histórias que a mente desconhece
Ou, talvez, ignore.
Tem sentimentos que não cabem numa vida
Ou num sonho qualquer.
Tem desejos que superam os obstáculos
E todos os mais profundos temores.
Tem momentos que não se escrevem em livros
Ou não podem ser aprisionados em pedaços de papel.
Tem você ou, talvez, sejamos nós dois,
Que não caibamos em convenções.
Tem esse sentimento e esse desejo
Que talvez não tenha explicação.

ASSIM SEJA

Se tiver que ser assim
Que assim seja.
Não vou mudar o destino,
Nem contrariar as leis.
Mas não me peça para aceitar
Ou achar natural.
Não me peça resignação
E nem compreensão.
Se tem que ser assim,
Que assim seja.
Não vou mover montanhas
Ou te arrastar até mim.
Mas, se por um instante,
Um segundo sequer,
Você não quiser que seja assim,
Assim não será.
Eu correrei todos os riscos
E atravessarei as maiores distâncias.
Se por um segundo apenas,
Você quiser que seja diferente,
Eu não vou esperar
Que as coisas tomem seus rumos.
Eu não vou aguardar a mão do destino.
Se você quiser,
Eu vou mudar as leis
E transformar as regras.
Vou mudar o mundo
Ou te levar para outra dimensão.
Não importa.
Se você quiser,
Eu vou te levar aonde você quiser.
E estarei do seu lado,
Não importa o que custe,
Ou tenha que transformar.